27 de mar. de 2011

Reflexões


Em um papo com a Mafalda do Monalisa de Pijamas sobre a morte da Cibele Dorsa e sobre depressão lembrei de muitas coisas pelas quais passei durante os 4 anos que estive em depressão e como a ajuda de amigos e depois da família me fizeram estar aqui hoje pra poder contar essa história.
Com 23 anos de idade entrei oficialmente em depressão, brinco com esse oficialmente porque segundo o psiquiatra eu tenho uma doença chamada distimia e a depressão é só uma consequência dela. Foram pelo menos 1 mês pra entender o que se passava comigo e mais 2 meses até começar o tratamento.
Não vou entrar no mérito do porque entrei em depressão, afinal de contas isso não vai ajudar ninguém, mas como eu descobri que estava doente, sim depressão é doença, e como sai disso vai ajudar muita gente.
Comecei a chorar por um motivo simples e durante a primeira semana achei aquilo tudo extremamente normal, quem é que quando fica triste não chora direto uma semana né (primeiro erro), na segunda semana tive um outro problema, que era mais sério que o primeiro, e continuei chorando diariamente, mas como sempre fui chorona continuei achando tudo normal (segundo erro), na terceira semana o choro não parava, não diminuía, a dor só aumentava, mas eu continuava achando tudo normal eu sempre fui mais sensível que as outras pessoas, chorar demais não era estranho (terceiro erro), quando entrei na quarta semana de choro direto e compulsivo percebi que tinha alguma coisa de errado, mas o preconceito que existia dentro de mim era maior que tudo e eu achava que tudo não passava de frescura, de coisa de menina mimada (quarto erro), só quando tive uma crise de pânico durante o trabalho foi que procurei ajuda.
A psicóloga da empresa em que trabalhava falou pra mim dos trabalhos de algumas faculdades e eu fui na que poderia me atender naquela emergência. Lembro da sensação da crise e até hoje, mesmo depois de vencer a batalha, ainda é assustador demais. Foi feita uma triagem e eu fui encaminhada para o psiquiatra e até chegar no consultório do psiquiatra e ele falar que eu precisava de remédios eu ainda achava que o que tinha era frescura (quinto erro). O preconceito e as imagens que recebemos todos os dias quase foram fatais no meu caso, pois achava que ia ser enxotada do consultório por estar fazendo o médico perder seu tempo, fico imaginando o que teria feito se não tivesse tido coragem de ir na consulta com o psiquiatra.
Mais um erro, isso está parecendo o jogo dos sete erros, demorei muito tempo pra contar pra minha família, achava que minha mãe não entenderia que eu precisava de remédios pra sair da cama, pra fazer coisas simples do dia a dia, como tomar banho e escovar os dentes, mas graças a mais uma crise de pânico eu consegui contar pra minha mãe o que se passava comigo e claro tive muito apoio dela e também dos meus irmãos. Não sei se meu pai sabe, ou entende direito, o que se passou comigo, ele se sente culpado isso eu sei, mas acho que ele não tem a dimensão exata do problema.
Quanto ao suicídio não posso mentir e falar que não me passou pela cabeça, pois passou e foram tantas vezes que perdi a conta, não sei se foi a terapia que fazia, se foi o sentimento que tinha pela minha mãe ou o medo das consequências, mas nunca tive coragem de concretizar, apesar de por diversas vezes dar "chance pro azar".
Na hora do desespero sei que a gente perde a cabeça, sei que você quer que alguém perceba que você tá sofrendo, mas se a gente não pedir ajuda fica difícil.
Me tratei, tomei remédios durante 4 anos, passei por recaídas, mas aprendi a lidar com meus sentimentos. Como meu problema é físico, falta de serotonina, nunca serei o que todo mundo chama de normal, mas aprendi a ser feliz como eu sou, com os problemas que tenho e que o melhor que tenho a fazer é enfrentar esses problemas.
Quando comecei meu tratamento queria ser a mesma pessoa que era antes da depressão, hoje sei que é impossível, antes da depressão eu era uma pessoa que iria ficar deprimida, hoje eu sou uma pessoa que superou tudo isso e que é muito melhor do que aquela que ficou pra trás.
Pedir ajuda não é vergonha, nem sempre somos fortes sozinhos, mas pedir ajuda com mensagem subliminar também não rola. Se você tá passando por esse problema não adianta deixar indiretas no twitter, msn, orkut ou facebook, seu amigos as vezes tem mais coisas pra se preocupar do que ficar decifrando suas indiretas. Tenha uma conversa franca com alguém, qualquer pessoa, em quem você confie, use a internet a seu favor e procure centros de apoio, tem tantos lugares que são gratuitos e principalmente não cometa os erros que cometi, eu tive sorte, mas você pode não ter...

2 comentários:

  1. Calista, ótimo texto.

    Eu também tive depressão, tomei remédios por 3 anos mais ou menos. Não foi fácil também me aceitar naquela condição; como você escreve, temos uma espécie de "autopreconceito". Felizmente tive ajuda de uma pessoa que praticamente me jogou dentro de um consultório médico.

    Na semana passada, contudo, um colega meu de faculdade se suicidou por causa da depressão. Sempre o via como uma pessoa muito ativa e sociável à época, pouco mais de 10 anos atrás.

    Quando soube da notícia, fiquei bastante chateado. Não sabia que ele estava sofrendo com a doença. E ela foi tão forte que ele não aguentou viver, sobreviver, conviver, reviver. Tomou o caminho mais curto. Um caminho que também me foi tentador, confesso. Contudo, não o culpo, porque a doença é fatal, e como você bem diz, se não houver ajuda explícita, a morte é a consequência.

    Parabéns pelo texto! Seja sempre feliz, ainda que à sua maneira, pois isso é importante! =D

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  2. Muito bom o post e importante para quem passa por isso.
    E fico feliz que vc, Calista, e o nosso amigo Lucast, estão bem!!
    Um grande e forte abraço!
    Mafalda

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